Um dos maiores desafios para mim é conseguir chegar às minhas memórias, perder-me nelas como me perco tantas vezes por caminhos que no fim me levam a reviver histórias que achava já ter esquecido. Agora imaginem encontrar memórias que não são minhas, não me pertencem, que me guiam por espaços que não conheço, objetos que não me dizem muito, caminhos já percorridos por outros e o que deles resta é só história, agora esquecida.
Partindo à descoberta, realço as casas e quintas senhoriais, as que em tempos foram habitadas por senhores nobres ou de grandes posses, e pelas suas famílias.
Assim como a idade destas casas senhoriais, inspirei-me em pinturas do seculo XIX. Distinguem-se pela sua arquitectura, decoração, e pela capacidade de resistir ao tempo e ao vandalismo. São autênticos museus de porta aberta.
Devido há falta de documentação, investigar estas casas são desafios frequentes. Saber a sua história e a de quem lá vivia torna-se, por vezes impossível, e muitas vezes o que me resta é observar e instintivamente recolher informação.
No seu geral, a primeira imagem que nos surge quando pensamos em lugares abandonados é um espaço ou edifício em ruína, destruído, vazio. Por vezes essa não é a realidade. Existem lugares cheios, ricos em histórias, sejam eles casas, quintas, palácios, hotéis, escondem um universo de segredo e mistério que tenho gosto de desvendar. E com este projecto quero mudar um pouco essa ideia, mostrando um lado mais clássico e senhorial de vários lugares abandonados em Portugal.
Neste projecto mostro que para além do próprio espaço, também são os objetos que compõem e dão vida a estes lugares esquecidos. Retrato a ideia do mistério que cada espaço carrega, e o não saber o que vou encontrar, aquilo que pode estar lá dentro.
Não se trata apenas de documentar estes lugares esquecidos, deles eu procuro as suas características e personalidade, não só pela sua beleza, mas principalmente pela maneira como a luz invade e ilumina os espaços, enquanto única forma presente e viva. Uma exploração, requer investigação, enriquece a minha cultura, gera criatividade, e me é fonte de inspiração.
Realizada na Quinta dos Casamentos, uma quinta construída no meio de montanhas, bastante isolada de grandes cidades. Possivelmente pela dificuldade em se encontrar este espaço, até aos dias de hoje não tem ocorrido muito vandalismo. Uma das principais características desta quinta é esta sala, não só por ser a única sala com pinturas na parede, mas principalmente por que esta pinturas foram feitas á mão.
O Palacete Matafome pertencia a um senhor nobre que tinha vários negócios, sendo o maior a colheita e venda de azeite da região. Nos seus tempos livres sabe-se que tinha uma rádio amadora, na altura muito característico entre os senhores mais ricos da região.
A Quinta do Músico é uma das maiores quintas naquela região, sendo também uma das mais antigas, pertence ao século XIX. Foi um dos locais que mais gostei de visitar, não só pela sua história, mas principalmente pelo seu interior. Quase todas as salas estão com todo o recheio, intactas, exactamente como foram deixadas, expecto aquelas que já sofreram vandalismo ou roubo.
Ainda na Quinta do Músico há esta pequena capela, construída em 1880, que servia para celebrar missas de domingo e para rezas semanais da família. No século XIX era habitual os senhores nobres com grandes quintas construírem pequenas capelas nas suas casas, não só porque tinham posses, mas principalmente porque as suas quintas não ficavam perto das aldeias ou de igrejas.
A Quinta do Músico tem a particular característica de parecer uma pensão ou um alojamento local. Percorrendo um dos seus grandes corredores encontramos esta sala de convívio com uma mesa de bilhar no meio, sofás ao redor das paredes, baús e uma coleção quadros religiosos. Apesar de destruição visível e do telhado que ruiu, esta sala não passa despercebida pela sua beleza e importância que tem para a quinta.
A casa das Bonecas é uma pequena casa cheia de história que parou no tempo. Ela destaca-se por este quarto, e por outro que esta cheio de bonecas assustadoras. Este quarto destaca-se pelos vestidos pendurados nas portas e janelas, vestidos muito antigos, parecendo de ocasiões especiais.
Esta sala foi uma das divisões mais peculiares que já encontrei. No meio de um corredor extenso existe esta sala de jantar, que de certa forma quebra uma sequência. Um corredor cheio de partas que nos levam a vários quartos, e no meio desse corredor uma sala de jantar que não parasse ter propósito. Ficando a cozinha no lado oposto da quinta, esta sala para ter sido mobilada, mas não para ser usada.
No fim de uma quinta encontrei esta sala de arrumações. Com apenas uma cadeira partida, esta sala encontra-se completamente cheia de baús vazios em todos os cantos. Sem a pequena janela no telhado que cria esta luz quase divina, não se conseguiria ver nada.
PROJECTO CONCLUÍDO